Pelo menos 3.770 brasileiros ficaram impedidos de deixar o Peru após o país fechar as fronteiras e decretar quarentena obrigatória neste domingo (15) para conter o avanço do novo coronavírus, segundo o Itamaraty. Eles estão, em sua maioria, em Lima e Cusco, mas há também brasileiros em Chicama, no norte do país.
Alguns turistas afirmam que a embaixada brasileira não tem prestado o apoio necessário. O administrador de empresas baiano Éderson Oliveira conta que chegou ao aeroporto nesta manhã para remarcar seu retorno ao Brasil no início da tarde, quando o exército peruano entrou no terminal e solicitou a saída de todos os passageiros que não tivessem voos marcados para hoje.
"O pessoal da companhia aérea fechou o guichê, não deu qualquer suporte", afirma Oliveira, que seguiu para a embaixada brasileira em Lima. "Não conseguimos falar com nenhum representante e não houve nenhum tipo de apoio. Não pegaram nosso telefone e nem perguntaram se queríamos uma água, se precisávamos de algum tipo de apoio".
"Deixaram nós, cidadãos brasileiros, a mercê da situação e a gente não sabe o que fazer", afirma.
A quarentena obrigatória e o fechamento das fronteiras no Peru foram decretadas após o país registrar 28 novos casos de infecção pelo novo coronavírus em apenas um dia. A determinação é válida até o dia 30 de março. Ao todo, 71 casos confirmados da doença foram registrados no país.
A medida permite que as Forças Armadas e a polícia atuem para manter a ordem pública e impedir a aglomeração de pessoas nas ruas. Apenas farmácias, bancos e mercados de alimentos podem permanecer abertos.
Empresas áreas afirmam que enfrentam dificuldades em entrar e sair do país desde que o decreto presidencial entrou em vigor.
O Itamaraty respondeu ao Estadão Conteúdo que a embaixada brasileira em Lima "está ciente da situação" envolvendo a quarentena e "em contato frequente com todos os cidadãos brasileiros".
"A Embaixada do Brasil em Lima continua fazendo gestões junto ao governo peruano e empresas de transporte para, na medida do possível, tentar apoiar o retorno dos turistas", afirmou em nota.
A mensagem, no entanto, é rebatida por outros brasileiros presos no Peru. O bancário carioca Leandro Quintela afirma ter ido pessoalmente ao consulado brasileiro em Lima e, apesar de ter conseguido falar com funcionários no local, não obteve resposta sobre a situação dos turistas.
"As informações que foram passadas eram aquelas que já tínhamos: estava fechado, não tinha previsão de reabrir. A funcionária, no entanto, não sabia informar qual a postura do consulado e nem a do governo, apenas que estavam sendo realizadas reuniões e que não poderia dar nenhuma previsão de quando sairia esse posicionamento", relata Quintela.
"Tem turista que o voo já foi cancelado, muitos estão sem onde ficar. Não sabemos se teremos dinheiro para pagar outro hotel ou não", afirma o inspetor de elétrica Daniel Mattos, que mora no Rio. "Está complicado".
A recepcionista Gisele Silveira, também do Rio, relata que planejava ficar no país até a próxima sexta (20). Transplantada renal há quatro anos, ela diz que faz tratamento com imunossupressores e tem medo de ter a saúde prejudicada pelo fechamento das fronteiras. "Estou em pânico, pois não sei o que vou fazer se meus medicamentos acabarem".
FONTE: CNN BRASIL