No posto de gasolina, no restaurante por quilo, no entregador de água ou na videolocadora. A cada Copa, em toda parte, era possível encontrar as tabelas da Copa. Extremamente populares antes da Internet e dos smartphones, era o jeito mais fácil de ter ao alcance da mão os horários dos jogos e as chaves para completar a partir das oitavas de final. Elas ainda não desapareceram, mas a informação disponível em qualquer parte e até as restrições de direitos autorais da FIFA interferem nessa tradição.
A procura na gráfica SmartPrints reflete o que o torcedor vê na rua: pequenos comércios e serviços procuram a tabela. "Lançamos nosso modelo em março. Tenho tido procura por comércios que têm espaço disponível para assistir os jogos, como padarias, barzinhos, restaurantes, pizzarias", conta Fernando Araújo, diretor da gráfica, que acredita que não há smartphone que acabe com as tabelas. "É uma questão cultural. O pessoal gosta de anotar, colocar na mesa, ter à mão."
A farmácia de manipulação Medicale, de Juiz de Fora, em Minas Gerais, adotou o brinde, mas está com medo de distribuir aos clientes. "A gente viu numa reportagem que existe uma porção de proibições da FIFA, que o uso dos termos relacionados à Copa é exclusivo. A ideia era ter um brinde ligado a Copa, que é o tema do momento, mas vamos ver a questão da proibição. Se for permitido, assim que chegar vamos distribuir para os clientes", diz Raquel Faria, proprietária da farmácia.
Já pensando nisso, na gráfica Brasil Graf a arte da tabela oferecida aos clientes foi refeita. "A primeira arte que a gente tinha feito era com o Copa 2014, com a bandeirinha, mas tivemos que tirar quando vimos que era registrado, ao ver os termos da FIFA. Readaptamos tudo", conta a auxiliar de marketing Flávia Coimbra de Freitas França. Ela acredita que o acesso fácil às informações diminuiu um pouco o interesse por esse tipo de cartela. "Hoje em dia dá para baixar até aplicativo no celular. Esperávamos um fluxo de pedidos maior, mas o pessoal deixou para última hora", diz.
Há quem não abra mão da tabelinha de papel mesmo. "Todo mundo quer acompanhar os jogos através da tabela, e nem todos têm internet à disposição. É um instrumento de bolso que a qualquer momento você pode atualizar. A tradição não morreu. Manter essa tradição é manter o sentido da Copa. Nosso cliente gosta. Fizemos 20 mil, distribuímos quase tudo e superou nossas expectativas", conta Edilson Neves, cordenador de marketing de uma distribuidora de alimentos e bebidas, que distribuir as tabelinhas pela terceira Copa seguida.
Em busca do lugar cativo no coração dos torcedores, alguns empresários estão apostando na tradição. "Eu pessoalmente não estou muito animado, para a empresa não é bom, já que vamos perder faturamento nos feriados. Mas a gente tem que tampar os olhos para isso e mandar ver. A tabela é legal, é bom para a marca, a pessoa vai guardar por um mês aquele papelzinho", conta Juliano Perez Simões, proprietário de uma rede de restaurantes em São Paulo, que imprimiu 10 mil tabelinhas. Gabriel Manica, sócio de um restaurante na mesma região, concorda. "É uma tradição, todo mundo gosta. Por mais que a internet esteja aí, ela é melhor para usar na rua, no trabalho, colocar palpites, fazer uma brincadeira", diz. Pelo menos nas tabelinhas, vai ter Copa sim.
FONTE:UOL